sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Os Coutos de Alcobaça

                                                    
No século XII, D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, teria prometido a Frei Bernardo de Claraval a concessão de vastas terras caso conquistasse Santarém aos mouros. Feito conseguido, promessa cumprida, até porque a influência da Ordem de Cister junto do Papa era importante, para que este reconhecesse a independência do Condado Portucalense.

Quando os primeiros monges vieram ocupar as terras regadas pelas ribeiras Alcôa e Baça, em meados do século XII, a região estava desertificada à excepção de algumas terras de alguns moçárabes (mouros convertidos à religião cristã) que tinham ficado após a retirada do povo islâmico.

E assim os abades se viram donos de planícies, esteiros, serras, portos e braços de mar, que havia necessidade de povoar, quanto mais não fosse para serem um tampão às arremetidas dos mouros. O território cedido aos cistercienses e que, anteriormente, tinha pertencido aos mouros, provavelmente não tinha sido utilizado para a agricultura, devido às inúmeras guerras que se passavam nesse local.

Os monges iniciaram de imediato o seu povoamento através da criação de granjas a partir das quais nasceram os coutos (lat. cautum: para segurança), uma espécie de comunidades que a igreja vigiava e dirigia.
Pelas regras impostas pela ordem, os frades deviam garantir o seu sustento, através do trabalho da terra, pelo que foi necessário desbravar os terrenos incultos, secar pântanos e fertilizar as terras.

Nesse tempo o mar chegava a Óbidos, Alfeizerão e Cela e o assoreamento destas regiões, obrigou à secagem dos pântanos, tornando o ar saudável e o solo fértil. A exploração das terras foi feita directamente pela Abadia de Alcobaça, nas granjas, ou indirectamente, através dos coutos, estes sob orientação técnica dos abades, ao qual se acolhiam colonos e alguns foragidos da justiça.

Durante o primeiro século em Alcobaça a vida dos monges foi dura, dividindo-se entre a construção da abadia, a exploração agrícola, (revelando-se excelentes agricultores) e a fixação de colonos nos seus domínios. (Gusmão, 1992; Saraiva, 1983).

Estas comunidades nunca se encontravam a mais de um dia de marcha do Mosteiro. Com a passagem dos anos, os colonos locais foram adquirindo direitos de exploração próprios, sendo obrigados a prestar contas à abadia.

As primeiras comunidades como, por exemplo, a de Aljubarrota, surgiram já nos anos de 1164/1167; as últimas foram criadas no século XIV. A única granja que perdurou até aos dias de hoje na sua estrutura básica é a Quinta do Campo, em Valado dos Frades no concelho da Nazaré.

Esta granja já existia no século XIII, datando possivelmente do século XII, tendo sido criada através da secagem dos pântanos e a partir do século XIV, os monges criaram nesse sítio uma escola agrícola. Hoje em dia, os edifícios têm meramente um valor turístico.

A maior parte das localidades circundantes de Alcobaça e da Nazaré remontam ao tempo destas colonizações como nos testemunham as igrejas e as capelas construídas em primeiro lugar, assim como os pelourinhos que detinham a sua própria jurisdição.

O abade de Alcobaça tinha o privilégio real de poder tomar decisões judiciais sem a confirmação do rei, pelo que alguns fugitivos ou mesmo, inicialmente, alguns criminosos, encontravam aqui protecção mesmo relativamente ao rei.

Deste modo, os monges cultivavam e povoavam rapidamente as terras e possuíam, através dos coutos, um domínio clerical e simultaneamente, mundano.

Já no século XIII, o Mosteiro possuía dois portos (Alfeizerão e São Martinho do Porto situados na Lagoa de Alfeizerão, e Pederneira, hoje um lugar que faz parte da Nazaré), possibilitando aos monges a prática da pesca, a exportação de vinho e de sal, extraído das salinas da lagoa que existia desde a Pederneira (Nazaré) até poucos quilómetros de Alcobaça. Mais tarde, exportavam azeitonas e azeite, nozes, frutos secos e madeira.

Devido à grande experiência dos monges, os reis pediam-lhes o seu auxílio para a secagem de pauis noutras zonas do território português. Em troca do auxílio na secagem dos pauis por parte da abadia, ela recebia bens feudais.

Em 1368 e em 1374, por meio de uma doação do rei D. Fernando, o domínio da abadia foi alargado com territórios perto de Paredes da Vitória e Pataias. Deste modo, passaram a fazer parte integrante do Mosteiro dezanove localidades, das quais treze se tornaram vilas, tais como Aljubarrota (1164/1167), Alvorninha (1210), Pederneira (1236/1238), São Martinho do Porto (1257), Paredes da Vitória (1282), Évora de Alcobaça (1285), Cela Nova (1286), Salir de Matos (provavelmente século XIII), Cós (1301), Maiorga (1303), Santa Catarina (1307), Turquel (1314), e Alfeizerão (1332, mas que já existia nos tempos dos mouros).


O Mosteiro administrou este vasto território até Outubro de 1833, ano que precedeu à extinção das ordens religiosas em Portugal.

Fontes: Victor Nogueira, in "Ao (es)correr da pena e do olhar"/ Wikipédia / Site do Municipio de Alcobaça

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