quarta-feira, 7 de abril de 2010

Rio Maior - sua História


Terra de fronteira entre regiões, Rio Maior foi também, desde sempre, terra de passagem, de norte para sul, do interior para o litoral. Mas foi também terra de fixação de vários povos e múltiplas culturas.

A arqueologia tem-nos revelado parcelas importantes dessa fixação destacando-se artefactos de diferentes períodos da pré-história, com destaque para o paleolítico superior (25.000 b.p. – Vale de Óbidos) e neolítico (5.000 b.p. – Anta de Alcobertas), mas também as presenças romana e árabe, aquelas que no fundo nos deixaram melhores e mais marcantes testemunhos.

A opção pela fixação está ligada às condições naturais que a região oferecia: a exploração mineira e a produção de cereais, vertentes principais do fluxos de homens e capitais que constituem a matriz riomaiorense.


A Villa Romana, casa típica de rico mercador, implantada à beira do rio no início do séc. III, constitui o núcleo a partir do qual se estrutura, a aldeia, a vila e hoje cidade de Rio Maior.

Depois, a presença moçárabe, mais nítida nos Silos e Forno Cerâmico, na freguesia de Alcobertas, espelha a profundidade das ligações que ambas as civilizações, tão diferentes e distantes no tempo, foram capazes de imprimir no território.

Aquando da fundação da nacionalidade, a região aparece disputada por vários poderes, desde a Ordem Militar dos Templários (1146) à Ordem Monástica de Alcobaça (1153), passando pela autoridade Régia e, sobretudo, a Municipal. É esta última que marca sobremaneira o viver quotidiano das gentes riomaiorenses, primeiro por ser Termo da Vila de Santarém, depois por passar a pertencer ao concelho de Azambujeira instituído em 1633; finalmente quando a vila se constitui, ela mesma, em concelho.


É ainda da Alta Idade Média a primeira referência à terra e à região, num documento de venda de um talho das salinas, actual ex-libris do concelho. Trata-se de uma carta de «Doacom de falinas ? Rio mayor», assim se intitula o documento, que regista a transação - de um particular para a Ordem do Templo - realizada em 1177. Desde então, e até hoje, muitos foram os seus titulares e muito trabalho de agricultores, tornados marinheiros, têm sustentado safras sazonais que, de Abril a Setembro, cobrem de branco a terra parda com a antiquíssima e artesanal arte.
Temos notícia da passagem e estada de D. Fernando, rei de Portugal, e de D. Pedro, duque de Coimbra, regente do reino, a caminho da Batalha de Alfarrobeira (1449) às portas de Lisboa, onde viria a falecer. Os impulsos destas estadas régias numa aldeia de tão pequenas dimensões repercutem-se de imediato e trazem ao burgo mais gente e mais movimento naquela encruzilhada de caminhos.

As guerras da Restauração (1640-1667) que se seguem à expulsão dos representantes de Filipe III distinguem o capitão de ordenanças João de Saldanha e Sousa, antepassado dos Condes de Rio Maior, e permitem a institucionalização de nova sede de Concelho em Azambujeira, elevada que fora à categoria de Vila pouco tempo antes. Nos duzentos anos seguintes a aldeia e freguesia de Rio Maior, deixando de fazer parte do Termo de Santarém, passa a pertencer à nova circunscrição municipal.


No entretanto, assiste-se ao aumento demográfico e valorização do seu potencial económico traduzido na criação de uma Feira Anual. Por outro lado, vê multiplicarem-se as suas instituições com destaque para a criação da Irmandade da Misericórdia e para o Hospício dos frades franciscanos que em 1763 inicia o fabrico de buréis.

Dois anos depois, em 1836, é institucionalizado o Concelho de Rio Maior. A nova entidade administrativa, que toma o lugar do extinto concelho de Azambujeira, nasce apenas com cinco freguesias (Rio Maior, Outeiro da Cortiçada, Arruda dos Pizões, S. João da Ribeira e Azambujeira), mas reserva para si a dinamização de um, Mercado Mensal ligado, sobretudo, à comercialização de produtos agrícolas e manufacturados. Pouco depois, em 1855, vê juntarem-se lhe duas novas freguesias, Alcobertas e Fráguas, por ter sido extinto o concelho de Alcanede, ao qual pertenciam. O puzzle ficará composto, por mais de um século, com a criação da freguesia da Marmeleira em 1878.

No último quartel do século XIX, são de registar significativos melhoramentos ao nível do património e com implicações na vida quotidiana: em 1864, a canalização de águas para dois chafarizes, um na Praça do Comércio, outro no Largo (e na mesma zona tanque para animais); destaque ainda para o Hospital da Misericórdia, construído em 1870, junto à Igreja, e algumas pontes em alvenaria (Rio da Ponte - 1870), em ferro (Barbancho – 1876) e inúmeras outras em estrutura de madeira, como no rio Alcobertas e na Ribeira do Juncal.

Na viragem do século o concelho de Rio Maior continua a ter a sua gente maioritariamente ligada às actividades agrícolas, com particular realce para os cereais e o olival, bem como a vinha que, entretanto, começa a despontar. No entanto, importa referir a constituição da primeira sociedade para exploração do carvão de pedra, em 1890, embora seja bastante mais tarde que a indústria mineira ganha importância e dimensão. As restantes indústrias são ainda essencialmente manufactureiras e desenvolvem-se na base de oficinas de madeiras, do ferro e latão, dos couros e cerâmica.

A II Guerra Mundial traz à mina de lenhite do Espadanal, em Rio Maior, um acréscimo de exploração que dá trabalho a centenas de mineiros vindos de todos os pontos do país. Este surto de desenvolvimento que leva o Estado a investir na linha de caminho de ferro, proposta havia quarenta anos, vai contudo servir apenas o transporte do carvão ficando por realizar a aspiração maior, o tráfego de passageiros e mercadorias gerais. A exploração de areeiros, iniciada em 1946, completa a implantação da indústria extractiva alargando, simultaneamente, o universo de referências do microcosmo riomaiorense e a valorização das suas elites.

Ao comemorar os 150 anos da institucionalização do concelho a vila vê reconhecida a sua importância e o trabalho abnegado das suas gentes que foram capazes de transpor obstáculos, superar dúvidas, e acreditar. A elevação à categoria de Cidade traduziu essa vontade de não deixar morrer a esperança que se constrói dia a dia e que alimenta o futuro.


Fonte: www.cm-riomaior.pt (trabalho de: Dr. Augusto M. Tomaz Lopes).

Sem comentários: